Como Moçambique usa a força da comunicação de massa para melhorar a saúde e a nutrição materna e infantil

Por IPC-IG

IPC-IG e PMA trabalham juntos para promover melhores práticas em saúde por meio da comunicação de mudanças sociais e comportamentais

 

Mocambique

Por Laura Dubois, estagiária de Comunicação, sob supervisão de Denise Marinho, oficial de Comunicação

 

 

Brasília, 15 de novembro de 2017 – Mudar os hábitos de uma pessoa não é tarefa fácil, muito menos influenciar tradições e convenções sociais de uma comunidade inteira.  Nesse contexto, teria a comunicação de massa poder para modificar o comportamento das pessoas, influenciando suas atitudes e seus conhecimentos? Esse é exatamente o objetivo de um projeto de comunicação de mudança social e comportamental (Social and Behaviour Change Communication – SBCC) em Moçambique. O projeto promove a disseminação de boas práticas nas áreas de saúde e de nutrição por meio da comunicação direta e de massa para melhorar a saúde e a nutrição materna e infantil.


"O projeto é uma intervenção inovadora com o potencial de melhorar a vida de pessoas necessitadas promovendo boas práticas nos campos da saúde e da nutrição. Nosso relatório de base confirma a relevância da intervenção no contexto da região de Manica ", explica Tatiana Martinez Zavala, consultora do IPC-IG e uma das principais pesquisadoras do projeto.


O IPC-IG realizou um relatório de base, que mostra as características médias da população alvo antes da intervenção.Os resultados demonstram que a maioria das mulheres realizava exames pré-natal durante a gravidez, teve parto em uma clínica ou hospital, e considerou importante se alimentar melhor durante a gravidez. No entanto, o nível geral de desenvolvimento socioeconômico das famílias alvo é baixo. Na área de alimentação de lactantes e crianças há espaço para melhorar as práticas de amamentação e a diversidade alimentar. Além disso, na prevenção da malária, há uma diferença significativa entre conhecimento e prática. Na área de água, saneamento e higiene, também existem grandes lacunas de conhecimento.

 

Localizado no sudeste da África, Moçambique é um dos países mais pobres do mundo, ocupando a posição de número 181 entre 188 países no ranking do  Índice de Desenvolvimento Humano de 2015 (IDH: 0,418). Apesar do rápido crescimento econômico registrado nos últimos anos, 54% da população permanecem abaixo da linha de pobreza nacional e 43% das crianças com menos de 5 anos de idade sofrem de raquitismo. O acesso limitado a alimentos e serviços primários de saúde e uma alta incidência de doenças infecciosas resultam em desnutrição e em deficiências de micronutrientes. Além disso, pesquisas realizadas pelo escritório em Moçambique do Programa Mundial de Alimentos (PMA) na província de Manica revelaram um conhecimento baixo sobre saúde e nutrição infantil em toda a sociedade.

 

                                                                     

 

Neste contexto, o projeto SBCC em Manica foi lançado pelo PMA para enfrentar essas questões e promover a mudança social por meio da comunicação. O objetivo é melhorar a saúde e a nutrição das crianças por meio da promoção de boas práticas nas áreas de cuidado e nutrição materna, alimentação de lactentes e crianças, da prevenção da malária e de informações sobre água, saneamento e higiene. O projeto faz parte de uma iniciativa financiada pela União Europeia para alcançar o primeiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável: "Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares".


Estratégias e desafios - O projeto SBCC promove boas práticas por meio de duas estratégias. A primeira é a comunicação interpessoal via comitês locais de saúde, criados em 90 comunidades rurais em Manica. Os membros dos comitês de saúde divulgam boas práticas de saúde e de nutrição em cursos de treinamento e em visitas a domicílio, além de compartilharem bons exemplos na sua comunidade. A segunda é a comunicação por meio de mídias de massa com transmissões de estações de rádio locais. Desta forma, espera-se que o programa atinja 44.640 indivíduos pela  comunicação interpessoal e 379.000 indivíduos por meio de comunicação de massa.


No entanto, persistem desafios relacionados ao componente de mídias de massa. O estudo descobriu que 60% das famílias não têm acesso ao rádio, 28% das famílias têm acesso ao rádio em casa e 29% têm acesso ao rádio fora de sua casa, embora esses dois últimos grupos possam se sobrepor. Além disso, apenas um quarto dos entrevistados tem acesso a aparelhos de televisão. Isso significa que uma grande parte dos indivíduos alvo provavelmente não será alcançada pelo componente de comunicação de massa do projeto.


Impacto potencial - A equipe de pesquisa do IPC-IG trabalha com o PMA em Moçambique para avaliar o impacto do programa por meio da realização de pesquisas com mulheres de 18 a 49 anos que estavam grávidas ou que tinham filhos com menos de dois anos de idade. Os dados coletados até agora encontraram diferenças estatísticas entre três grupos diferentes de mulheres: as mulheres que se beneficiariam tanto da comunicação interpessoal como da comunicação de massa;  mulheres que só se beneficiariam da comunicação de massa;  e mulheres que não se beneficiariam de nenhuma das duas. A avaliação de impacto do projeto terá que considerar essas diferenças para avaliar o impacto da iniciativa tem termos de melhoria das práticas de saúde e de nutrição e de redução do nível de vulnerabilidade das pessoas.

 

                                                                           

"Devido à experiência do IPC-IG com outros projetos em relação à segurança alimentar e nutricional, fomos convidados a atuar como a principal instituição de pesquisa no SBCC e realizar o monitoramento do projeto e sua avaliação de impacto. O projeto SBCC é uma iniciativa muito inovadora, especialmente no contexto de Moçambique rural. Por isso é particularmente empolgante para nós, enquanto pesquisadores, investigar o impacto do programa e descobrir se os comitês de saúde do SBCC podem melhorar a saúde e a nutrição das famílias extremamente pobres ", diz Mario Gyori, coordenador do projeto SBCC e pesquisador associado do IPC-IG.


O relatório final do projeto a ser publicado em breve revelará se o projeto SBCC foi bem-sucedido na melhoria dessas áreas na província de Manica. A pesquisa final será realizada entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, com o relatório completo de avaliação de impacto do programa previsto para ser publicado em setembro de 2018.

Leia o estudo completo em inglês aqui ou  a versão reduzida (One Pager) em português aqui.

Crédito das fotos:

Foto 1: IPC-IG/Alvaro Hoyos
Foto 2: IPC-IG Photo/Mirella Domenich
Foto 3: UN Photo/Pernaca Sudhkara