Economia comportamental: Por que a forma como tomamos decisões pode influenciar políticas para redução da pobreza?

Por IPC-IG

Novo estudo do IPC-IG apresenta as implicações dos conceitos da economia comportamental na análise de políticas públicas para superação da pobreza e a experiência de países e organizações internacionais no desenho e na implementação de políticas sociais

 

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Por Vitória Greve, estagiária de Comunicação, sob supervisão de Denise Marinho dos Santos, Oficial de Comunicação

 

 

Brasília, 10 de outubro de 2017 - O Prêmio Nobel de Economia de 2017 foi concedido ao norte-americano Richard Thaler por suas contribuições no campo da economia comportamental. Thaler é um dos mais destacados economistas na aplicação da psicologia às análises das teorias econômicas e das consequências da racionalidade limitada, das preferências pessoais e da falta de autocontrole. Um desdobramento mais recente dessa área de pesquisa da economia é a aplicação de "insights" comportamentais às políticas públicas. Compreender os processos decisórios, os hábitos e as experiências pessoais daqueles em situação de pobreza é essencial para o processo de elaboração de políticas públicas e a sua eficácia. É o que sugere o estudo do IPC-IG  “Insights comportamentais e políticas de superação da pobreza”, de autoria de Antonio Claret Campos Filho e Luis Henrique Paiva, pesquisadores associados do IPC-IG e pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A gente não acorda de manhã pensado na qualidade da água que estamos bebendo ou que os recursos gastos no almoço irão fazer falta no fim do mês. O pobre gasta boa parte do seu sistema cognitivo enfrentando dilemas cotidianos deste tipo e por isso ele tem uma maior sobrecarga mental”, explica  Luis Henrique Paiva, coautor do estudo. "Viver na pobreza exaure a sua capacidade mental e isto acaba conduzindo o indivíduo a tomar decisões ruins e com maior probabilidade de cometer erros. Isso retroalimenta a pobreza. O contexto da pobreza perpetua a escassez

As políticas públicas têm sido implementadas tradicionalmente com base em modelos que consideram as pessoas como agentes capazes de tomar decisões racionais, ponderadas e com capacidade ilimitada de processar informações. Em contraposição a essa visão, os estudos sobre economia comportamental sugerem que a realidade é diferente: as pessoas têm um sistema cognitivo limitado, decidindo com base em hábitos e experiências pessoais. Aceitam soluções satisfatórias, tomam decisões de forma rápida, têm dificuldade em equilibrar interesses de curto e longo prazos, são fortemente influenciadas por fatores emocionais e pelos  comportamentos dos outros.

O estudo publicado pelo IPC-IG defende que aqueles em situações de escassez, como a pobreza,  têm uma maior sobrecarga mental, pois estão sujeitos a preocupações que não afetam a vida daqueles de maior renda, como a qualidade da água consumida ou o acesso à alimentação. Evitar contrair empréstimos a juros altos é um exemplo da falta de autocontrole que  tende  a ser mais frequente e mais onerosa para os pobres. Decisões de longo prazo também tendem a ser negativamente afetadas pelas sobrecargas associadas à escassez, como retirar os filhos da escola para buscar algum tipo de trabalho, por conta da perda de emprego dos pais, o que acarreta consequências negativas para toda a vida da criança.


O desenho de políticas e programas sociais precisaria considerar esta ocorrência esperada de erros e as situações concretas vividas por famílias ou comunidades pobres. Os programas deveriam ser tão simples quanto for possível para atingir os seus objetivos, evitando demandas e compromissos desnecessários sobre os seus beneficiários. Essas pessoas tomariam melhores decisões a longo prazo, como acumular poupança, caso tivessem alguma perspectiva de futuro, de realização de projetos de longo prazo. Um mínimo de segurança também é fundamental: microcrédito, a educação das crianças, a segurança do emprego, a disponibilidade de uma rede de proteção social básica e seguros contra doenças ou calamidades.

Um número crescente de países,  como Estados Unidos, Austrália, Canadá e  França, tem adotado a abordagem comportamental na análise e no aprimoramento de suas políticas. Recentemente, a ONU instituiu um grupo de assessoria ao Secretário-Geral para tratar de temas comportamentais com ênfase no alcance dos objetivos da Agenda de 2030. No entanto, no Brasil ainda são raras as políticas públicas desenhadas com base nos estudos comportamentais.